segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

As tentações de Jesus (Lucas 4:1-13)

As tentações de Jesus (Lucas 4:1-13)

November 2, 2008 by admin   
Filed under # TodosTentação

Jesus acabara de ser batizado, e agora antecipava o ministério público ao qual Se dedicara. Primeiramente, porém, passou algum tempo em refle xão quieta no deserto. Que tipo de Messias haveria de ser? Deveria usar Seus poderes para fins pessoais? Ou para estabelecer um império podero so que dominaria o mundo com justiça? Ou para operar milagres espetaculares, embora sem razão de ser? Rejeitou todos estes conceitos por aquilo que eram: tentações do diabo. O fato de que eram tentações subentende que Jesus sabia que possuía poderes incomuns. ‘Tara nós, não é uma ten tação o transformar pedras em pães, ou pular de um pináculo do Templo” (Barclay). Jesus, porém, não era restrito às nossas limitações. Sabia que ti nha poderes que outros homens não possuem, e deveria resolver como os empregaria. Esta história inteira tem outro interesse para os crentes, a sa ber: deve ter vindo de ninguém mais senão o próprio Jesus. Mateus tem a segunda e a terceira tentação na ordem inversa, fato este que nunca foi explicado de modo satisfatório (as razões sugeridas são todas subjetivas).

l, 2. Mateus e Marcos nos dizem que Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, mas somente Lucas diz que Jesus estava cheio do Espirito San to. Também diz que era “no (e não pelo) Espírito” que Jesus foi guiado. Satanás realmente tentou a Jesus, mas havia mais do que isto na história. Era o plano de Deus que, logo de início, Jesus enfrentasse a questão de que tipo de Messias haveria de ser.

3,4. Satanás começou com a fome de Jesus, e passou a levantar uma dúvida quanto à Sua Filiação divina. Jesus acabara de ouvir uma voz do céu chamando-O de “Filho” (3:22). Satanás sugere que verifique Sua filiação ao transformar uma pedra em pão. O problema para Jesus era sa ber se a voz que agora ouvia vinha do mesmo lugar da voz celestial. Sua res posta veio de uma passagem da Bíblia (Dt 8:3). Aquilo que não concorda com a Escritura não vem de Deus. A essência da tentação talvez tenha si do o uso dos poderes milagrosos para fornecer pão aos famintos, tor nar-Se um obreiro social. Mas não havia famintos com Jesus no deserto, de modo que talvez seja mais provável que a tentação fosse para usar Seus poderes para suprir Suas próprias necessidades pessoais. As palavras com que a tentação foi rejeitada têm uma aplicação ampla. O homem deve in teressar-se por muitas coisas além do pão (cf. Jo 4:34). Não é simplesmente um animal, vivendo no nível das necessidades físicas.

5-8. Lucas não diz, conforme diz Mateus, que o diabo levou Jesus a um alto monte para mostrar-Lhe todos os reinos do mundo. Enfatiza, não o lugar de onde foi vista a visão, mas, sim, o fato de que o Maligno fez apa recer diante de Jesus toda a pompa deste mundo. Alegou que era dele (para Satanás como “o príncipe deste mundo” cf. Jo 12:31; 14:30; 16:11), e prometeu dá-lo a Jesus somente se Este o adorasse. Quer dizer que Je sus via a possibilidade de estabelecer um reino que seria muito mais pode roso do que aquele dos romanos. Não é difícil ver como semelhante visão pudesse ser considerada um alvo legítimo. Significaria um governo ocupa do somente com o bem-estar genuíno do povo, e o caminho seria aberto para muita coisa boa. Mas importava em transigir. Importava em usar os métodos do mundo. Importava em expulsar os demônios por Belzebu. Para Jesus, significava virar as costas à Sua vocação. Seu reino era de um tipo bem diferente (Jo 18:36-37). Já Se identificara com os pecadores que viera salvar (3:21). Isto significava que seguiria o caminho da humildade, não aquele da glória terrestre. Significava que Ele teria uma cruz, não uma coroa. Procurar a soberania terrestre era adorar à maldade, e Jesus decisi vamente a renunciou. Mais uma vez, apelou à Bíblia (Dt 6:13), indicando que a adoração a Deus é exclusiva. Nenhum outro deve ser adorado senão Ele.

9-12. A terceira tentação está localizada em Jerusalém. Jesus é convidado a lançar-Se do pináculo do templo. O artigo mostra que um pi náculo específico está em mente, mas não podemos identificá-lo com certeza (as sugestões incluem o ápice do santuário, o topo do pórtico de Salomão, e o topo do pórtico real). A tentação pode ter sido no senti do de operar um milagre espetacular mas sem razão de ser, a fim de compe lir à maravilha e à crença de certo tipo. Mas visto que não se diz que qual quer outra pessoa estava presente, a tentação pode ter sido, pelo contrário, conforme a resposta de Jesus parece indicar, a de ser presunçoso com Deus ao invés de confiar nEle humildemente. Farrar chama a atenção a um fato importante quando cita o comentário de Agostinho de que Sata nás nada mais pode fazer do que sugerir: somente a pessoa tentada pode realizar o ato errado (atira-fe para baixo). O Maligno nesta ocasião cita a Escritura (SI 91:11-12) para assegurar Jesus que Ele ficaria bastante se guro. Este, porém, é um emprego errôneo da Bíblia. É torcer um texto pa ra servir um propósito. Jesus rejeita esta tentação, conforme fizera com as outras duas, ao apelar para o significado verdadeiro da Bíblia (Dt 6:16). Não cabe ao homem submeter Deus ao teste, nem sequer quando o homem é o próprio Filho de Deus encarnado.

Note-se que em todas as três ocasiões Jesus enfrentou as tentações ao citar de Deuteronômio, e, de fato, da porção restrita entre 6:13 e 83. Estes capítulos se referem às experiências de Israel no deserto, o povo de Deus! É bem possível que Jesus dedicara muito pensamento a estas passa gens enquanto refletia sobre a missão à qual Deus O chamava. Havia parale los entre a experiência do antigo povo de Deus e Sua própria experiência. Estava unido com o povo de Deus.

13. No decurso de todas estas tentações, nenhum recurso especial estava aberto a Jesus. Enfrentou a tentação da mesma maneira que nós devemos enfrentá-la, com o uso da Escritura, e ganhou a vitória. Lucas completa a narrativa com Satanás decisivamente derrotado. “Acabara de tentar Jesus de todas as maneiras” (TEV), mas Jesus não cedera. Isto não quer dizer que a partir deste momento Jesus não seria sujeitado a mais tentações. Conzelmann sustenta que Lucas retraía Satanás como estando ausente durante o ministério de Jesus, mas isto não está de acordo com os fatos (cf. a obra de Satanás em 8:12; 10:18; 11:18; 13:16; 22:3, 31, e refe rências a tentações ou testes, que subentendem sua atividade, em 8:13; 11: 4, 16; 22:28). O diabo O deixou somente “até que uma nova ocasião se apresentasse,” conforme a tradução de Rieu. Nesta vida, não há isenção da tentação. Não havia para Jesus, e não há para nós.

Fonte: Leon L. Morris. Lucas - introdução e comentário. Editora Vida Nova.

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